Há alguns anos, se alguém me dissesse que estaria escrevendo este texto da cidade Turim, cercada por Alpes carregados de neve e histórias milenares, eu não acreditaria. Mas aqui estou: italiano não só no sangue, mas também no coração e no documento.

A jornada para conquistar a cidadania italiana e me mudar para a Itália foi uma mistura de burocracia, resiliência e descobertas emocionantes. E hoje, compartilho essa experiência para inspirar quem também sonha em reviver suas raízes.

A Faísca do Sonho: Herança e Identidade

Tudo começou nas histórias da minha mãe. Ela falava da Itália com um brilho nos olhos, descrevendo as ruas de pedra, as cidades floridas e pequenas e os verões sob o sol do Mediterrâneo. Cresci ouvindo essas histórias e, com o tempo, percebi que a Itália não era só um lugar distante: era parte de quem eu era. Aos 21 anos, decidi transformar aquele sentimento em ação.

O Caminho da Cidadania: A Decepção

A cidadania jure sanguinis (por direito de sangue) parece simples no papel: basta comprovar seu parentesco com um antepassado italiano. Na prática, é uma maratona. Primeiro, mergulhei em pesquisas genealógicas, cartórios e grupos de Facebook (sim, eles salvam vidas!). Encontrei a certidão de óbito do meu trisavô, nascido na Itália.

Estudando um pouco mais sobre os critérios de reconhecimento de Cidadania Italiana, me deparei com um problema. Como meu pai não foi casado com a minha mãe, e quem transmitia cidadania era ele, e não havia em minha certidão de nascimento a menção dele como declarante, minha linha tinha sido quebrada e infelizmente eu descobri que não tinha direito a Cidadania Italiana.

Lá em 2005 eu guardei a certidão de óbito do meu trisavô, junto a um monte de anotações e certidões antigas e deixei em algum lugar que até hoje não localizei.

A Descoberta: Sim eu Tenho Direito a Cidadania Italiana

Passado alguns anos, depois de muitas decepções na vida, e principalmente na cidade em que eu fui criado, renasceu em mim a vontade de mudar. Então comecei a paquera novamente com a tal Cidadania Italiana.

Retornei meus estudos, comecei a me informar mais em sites e vídeos de gente muito capacitada, e em um deles veio a informação: "Se você foi reconhecido como filho ainda na menor idade, a sua linha não foi quebrada, você tem direito sim a Iure Sanguinis".

Lembro-me de assistir esse vídeo umas três vezes esse dia pra ver se a empolgação não havia me cegado. E sim, esse especialista disse o que eu precisava ouvir, para enfim colocar meu sonho em pauta, depois tornar ele um objetivo e posteriormente estar aqui escrevendo pra vocês em uma noite de doze graus de Turim, no norte da Itália.

Esse especialista se chama Fabio Barbiero. Ele de fato mudou a minha vida com essa informação, num vídeo disponibilizado gratuitamente no Youtube. E não só a minha, mas a de milhares de pessoas. Fica aqui registrado meu eterno agradecimento a você, meu caro mentor Fabio Barbiero. OBRIGADO!!!

O Caminho da Cidadania: Montar a arvore genealógica, documentos e correria.

Após descobrir a informação que sim, tenho direito. Aí começou o trabalho de pesquisador.

Na minha família, por parte do meu pai, tanto minha avó quanto meu avô, são descendentes de Italianos, portanto eu podia optar por um ou por outro para fazer. Quando tentei localizar de forma aventureira ainda, a documentação daquele trisavô lá de 2005, eu não consegui.

Então fui buscar informação com a família do lado da minha avó. E bingo! Uma prima que morava na Holanda, já tinha iniciado o processo e me disse: "Tem um site com nossa arvore genealógica e a documentação está toda lá". Que maravilha! Depois de anos de sonho, imaginando esse momento, dei inicio as analises, retificações e montagem da minha pasta para reconhecer minha cidadania em Solo Italiano. Eu mesmo pedi minha certidão italiana ao Comune di Ostiglia, onde nasceu meu antenato. Que depois um buscador profissional fez a busca e me enviou até a minha casa!

Depois de algum tempo e muito investimento, eu estava pronto para viajar e começar a realização do meu sonho de ser cidadão Italiano.

A Itália: Chegando e Reconhecendo minha Cidadania!

No dia 16 de Junho de 2024 eu embarquei pra Itália. Lembro de ser um dia com uma mistura de sentimentos.

Primeiro eu deixei no aeroporto dois filhos, minha esposa e algumas lágrimas!

Segundo eu estava eufórico, radiante, louco pra fazer essa viagem! Quem a fez, sabe como foi!

Fiz meu primeiro voo internacional nesse mesmo dia. Sai de Campinas pra Paris. Uma delicia de voo! Cheguei a Paris e fui obrigado a usar meu inglês fraquíssimo de 6 anos de escola Fisk feitos e bem mal-feitos. Mas foi útil!

No mesmo dia embarquei pra Milão, e depois embarquei ao Sul da Itália, onde fui realizar meu processo!

Lembro que ao desembarcar no Sul, eu passei a mão no chão da pista do Aeroporto, fiz o sinal da Cruz, comemorei gritando por dentro: Cheguei P.....!!!!

Meu processo transcorreu como o imaginado, pois já fui com a documentação retificada, organizada e pronta.

Conto isso numa próxima oportunidade!

No dia 31 de julho de 2024 eu me tornei Cidadão Italiano reconhecido e documentado na Itália, com certidão transcrita e ID Italiano ( O RG deles).

Itália: Percepções e Opinião

Viver aqui é abraçar o contraditório. Os trens atrasam, mas o café é perfeito. O imposto de renda é complicado, mas uma conversa no tabacchi vale mais que terapia. Aprendi que a dolce vita não é sobre perfeição, mas sobre priorizar o prazer das pequenas coisas: um gelato compartilhado, um jantar que dura 3 horas, o hábito de dizer "Ciao, come stai?" até para estranhos.

E, sim, a comida é tão boa quanto dizem. O segredo está nos ingredientes. Massa fresca, tomate de primeira, queijos incríveis e vinhos tão maravilhosos quanto baratos.

O que me deixa mais alegre na Itália é o custo de vida, a segurança que temos, a estrutura de primeiro mundo, a possibilidade de gerar aos meus filhos uma gama gigante de oportunidades educativas, contrastando com a história incrível que só se encontra nesse País! Tudo isso me deixa em êxtase!

Para quem tem ainda um pouco de dúvida sobre experimentar essa mudança vos digo, VENHAM!!!

Toda dificuldade é compensado por tudo que se vive aqui! E se vive bem e feliz com qualidade de vida, e sem ser um milionário é claro!

Lições de Quem Ousou Recomeçar

1. Raízes importam, mas o crescimento é seu: A cidadania me deu um passaporte, mas foi a coragem de me adaptar que me fez "italiano".

2. A burocracia é um teste de amor: Se você realmente quer isso, persista! Contrate um profissional!

3. A Itália te transforma: Você aprende a desacelerar, a valorizar histórias e a aceitar que um pouco de caos faz parte do charme.

Para Quem Sonha: Um Incentivo

Se você está pesquisando sobrenomes no FamilySearch ou já tem a pasta de documentos pronta, vai valer a pena. A jornada é longa, mas cada passo te aproxima de uma versão mais autêntica de si mesmo. A Itália não é um país perfeito, mas é um lugar que te abraça com toda sua imperfeição gloriosa.

E quando você finalmente estiver aqui, sentado em uma piazza tomando um gelato, vai entender: não foi só um processo legal. Foi uma volta para casa.

Hoje, olho para trás e vejo que cada certidão, cada noite de ansiedade e cada "mi dispiace, non possiamo aiutarla" foram degraus para um recomeço. A Itália me ensinou que herança não é só DNA: é cultura, é paixão, é pertencimento. E se meu trisavô visse esse seu trinipote falando italiano (com sotaque, ok?), tenho certeza de que ele diria: "Finalmente, ce l'hai fatto!".

E você? Pronto para escrever sua própria história?

Ci vediamo !